Para Refletir!!!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A flor...

A flor e seu nome

Mas o que impressiona mesmo no amor-perfeito é o nome.

Que responsabilidade, meu filho!

Há por aí uma planta chamada de amor-de-um-dia,

que não carece muito esforço para ser e acontecer, como doidivanas.

Outra atende por amor-das-onze-horas

e presume-se como sua vida é folgada.

Há também amor-de-vaqueiro,

amor-de-hortelão, amor-de-moça,

amor-de-negro...

muitos amores vegetais que desempenham função limitada.

Mas este aqui não tem área específica,

não se dirige a grupo, ocasião, profissão.

É absoluto, resume um ideal

que vai além do poder das flores e dos seres humanos.
Que sentirá o amor-perfeito, sabendo-se assim nomeado?

Que tristeza lhe transfixará o veludo das pétalas ,

ao sentir que os homens que tal apelação lhe dera

não são absolutamente perfeitos em seus amores?

Que aquele substantivo, casado a este adjetivo,

sugere mais aspiração infrutífera da alma

do que modelo identificável no cotidiano?
A tais perguntas o sóbrio amor-perfeito não responde.

O outono tampouco.

Talvez seja melhor não haver resposta.

Carlos Drummond de Andrade

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